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Munch. Melancolia. |
MEIO-DIA DA VIDA
Juliano Barreto Rodrigues
Neste meio-dia da vida, todo dia é igual: muita fome de tudo e um
cansaço que só permite um cochilo. O tempo já não é tão
impressionante como ao amanhecer, com suas cores e cheiros, nem
meditativo e calmo como no fim de tarde. É quente, áspero, rápido,
longe da partida e longe da chegada. As necessidades são imediatas e
relativamente frugais: basta ficar saciado logo, sem muita preparação
nem muita coisa para limpar depois.
O meio-dia da vida é meio chato: a energia é pela metade, a hora do
descanso ainda demora, a excessiva claridade zenital revela os vincos
na pele que as luzes oblíquas das outras horas disfarça, a preguiça
é inevitável.
Falta romance, falta o pitoresco, o encanto. Se ri mas não se
gargalha, se suspira mas não se geme alto. Não há brisa capaz de
eriçar os pelos. Nada parece tão interessante. Se economiza
intensidade.
Raio perpendicular a apontar o dedo bem no meio da cabeça do
vivente. Até a sombra companheira se retrai escondida, não refresca
nem quem está ao lado. Vendo de cima, o indivíduo vira apenas um
ponto mínimo. É tempo do egoismo, da ilusão de auto-bastança, das
relações mais fugazes, do beijo como mera formalidade a ser vencida
rapidamente para se chegar ao principal.
12 horas. O relógio está com seus braços cruzados, expondo seu
maior espaço. Lembra o ser fechado em si e, por isso mesmo, com a
retaguarda totalmente vulnerável. É hora grande, se está descuidado o suficiente para arriscar
por pouco. É instante de escolher, tendo os olhos ofuscados pelo
mundaréu de luz, um dos caminhos da encruzilhada. Não se vê
claramente onde cada um pode levar.
O meio dia da vida é meio chato. Por outro lado, agora as cores
irradiam, explicitamente, ao máximo. São o que são, sem nuances
externos. Dá para ficar nu sem sentir frio, mas é preciso cuidar
para o que mostrar não seja feio.
Dá sede, dá sono, o presente balbucia em meio ao passado que ficou
e o futuro que se espera. É como este escrito, paupérrimo de
interjeições e riquíssimo em conjunções. Só se deseja chegar a
algum lugar.
E tantos “se” correndo o texto? Não coincidentemente, são doze.
Não é descuido de autor, é vontade de novas possibilidades, desejo
de acelerar o coração.
O meio dia da vida não é mais importante por estar no meio. É meio
chato, mas é só mais uma hora que passa.