O Coletivo

Blog do escritor Juliano Rodrigues. Aberto a textos gostosos de quem quer que seja. Contato: julianorodrigues.escritor@gmail.com

segunda-feira, 20 de janeiro de 2020

Sobre Gostar Menos



SOBRE GOSTAR MENOS

Rute Lessa Nascimento

Eu vou pedir coisas simples
Na maioria das vezes sem valor financeiro
Algumas vezes possível
Ou melhor, sempre possível
Pois se não fosse não pediria.
Vou pedir coisas fáceis
De difícil já basta a vida
Mas embora simples
Vou pedir coisas de grande impacto
Variando de um olhar sincero
A um arrepio na espinha
E nem precisa ter som ambiente
Pra mim a respiração já basta.
São inúmeras miudezas
E boa parte só precisa do seu corpo
E acredito que do meu também
De uma melodia da sua voz
De um afago no seu cabelo
Sentir os detalhes dos seus poros
O contorno do seu sangue
Suas pintas
Suas imperfeições
Seu olhar momentâneo
Que antes significava tanto
Hoje me dá saudade




Cloisonné


CLOISONNÉ

Juliano Barreto Rodrigues

Atento a detalhes sutis, quase inobserváveis, coleciono miudezas, reminiscências, que ocupam enorme espaço em recipiente limitado. Por isso, transbordam as recordações mais práticas e delas me esqueço em um segundo. Não por querer. Que, querendo, preferia lembrar mais.
Sou Bugigangueiro de lembranças, repleto de badulaques no bestunto:

O peixinho dourado chinês articulado,
Em cloisonné.
Um relógio cuco quebrado
Que na infância vi.
Anáguas de tia-avó,
Aquele borrifador vintage,
Já com quase nada de perfume.
As fachadas art deco,
Ciganas com dentes de ouro,
Os cavalos com freio nos dentes,
Candeeiro de azeite,
Ex-votos,
Caçarolas,
Tachos de cobre
E comadres de mijar.
E gripes horrorosas.
Histórias de pôr medo.
Garoa mole,
Fogo na lenha do fogão a lenha,
Madrugada de acordar para a escola.
Brisas, ventos, redemoinhos de diabos dentro.
Cercanias,
Porteiras,
Paixões de um dia;
Brechós, sebos, ferros-velhos,
Velharias, velhacarias.
A binga de latão, à querosene,
Ligando o pito de palha de milho e fumo de rolo.
Talco,
Cigarrinho de chocolate,
Pisar esterco descalço.
Bruxas
E mais um mundão de coisas,
E gentes.



FADO


FADO
(Para Jasminny Rodrigues da Costa Santos)

Juliano Barreto Rodrigues.

Não podemos te obrigar a nada.
Mas, no momento em que mostraste,
Em um poema,
A alma desnudada,
Obrigaste a ti mesma.

Abriste uma caixa que não pode ser fechada.
Nem importa se de maravilha ou de Pandora.
O que flui daí não te pertence mais.
Não te tornas responsável por aquilo que cativas?

Poetisa sois!
Mais que isso, és toda poesia.
Teu peito já abriu,
Isso é coisa que não fecha.
Então, se assuma.
Tua palavra não é mais sua.
Salte!
Solte essa louca na rua.



sexta-feira, 17 de janeiro de 2020

Vagão Babel

https://www.vice.com/pt_br/article/jpe9jk/duplicacao-estrada-de-ferro-carajas-vale


Ícaros



ÍCAROS

Juliano Barreto Rodrigues

¿
E

São tantos picos
E píncaros
E pontas
E gumes
E riscos de estrelas
E rastros de lumes...



Fetichal



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FETICHAL

Talafeni Daffi

Limar os dentes à grosa:
Apontá-los!
Cortar a língua à gilete:
Bifurcá-la!
Tosar as sobrancelhas à navalha:
Raspá-las!
Arrancar uma orelha à faca:
Van Gogheá-la!
Tornar a pele um cartaz:
Multitatuá-la!
Crivar de ganchos as costas:
Pendurar-se!
E voar...
Voar sobre a esnobice puritana.





Afoito Passageiro


AFOITO PASSAGEIRO

Juliano Barreto Rodrigues

Um risco bisturilou o relógio numa velocidade mercúrica de fúlmen
Pisquei, já estava adulto.
Agora...,
Adio piscar de novo, para que a senilidade não chegue.
Parei de perder tempo.
Meus desejos, meus gostos,
Não os deixo esperar:
Vivo a gota antes que pingue,
O Sol antes que nasça,
Todo o acaso do ocaso.
Machuco a crosta
E vivo fundo
(Que cada todo segundo me basta).
Sou eu que empurro a sorte,
E não ela que me arrasta.