CLOISONNÉ
Juliano Barreto Rodrigues
Atento a detalhes sutis, quase inobserváveis, coleciono miudezas,
reminiscências, que ocupam enorme espaço em recipiente limitado.
Por isso, transbordam as recordações mais práticas e delas me
esqueço em um segundo. Não por querer. Que, querendo, preferia
lembrar mais.
Sou Bugigangueiro de lembranças, repleto de badulaques no bestunto:
O peixinho dourado chinês articulado,
Em
cloisonné.
Um relógio cuco quebrado
Que na infância vi.
Anáguas de tia-avó,
Aquele borrifador vintage,
Já com quase nada de perfume.
As fachadas art deco,
Ciganas com dentes de ouro,
Os cavalos com freio nos dentes,
Candeeiro de azeite,
Ex-votos,
Caçarolas,
Tachos de cobre
E comadres de mijar.
E gripes horrorosas.
Histórias de pôr medo.
Garoa mole,
Fogo na lenha do fogão a lenha,
Madrugada de acordar para a escola.
Brisas, ventos, redemoinhos de diabos dentro.
Cercanias,
Porteiras,
Paixões de um dia;
Brechós, sebos, ferros-velhos,
Velharias, velhacarias.
A binga de latão, à querosene,
Ligando o pito de palha de milho e fumo de rolo.
Talco,
Cigarrinho de chocolate,
Pisar esterco descalço.
Bruxas
E mais um mundão de coisas,
E gentes.
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