Horror no corajoso
Juliano Barreto Rodrigues
O medo no tutano do osso.
Fundo de poço sem fundo,
Que, de tão lá, não vem à luz.
Não comunica carne,
Não comunica nervo
Não comunica pele,
Nem comunica pelo.
Dói de abismo;
Mas de modo inconsciente,
Latente!
A boca nega;
O gesto repudia;
A face desmente.
Tudo no ato é coragem.
Tão mais espetaculosa e indômita,
Quanto maior o medo que cala.
Odisseu teve medo: escondeu!
Nero também teve;
E Vlad da Valáquia, o conde.
Assim, todos os corajosos da história.
Porque todo grande teme um maior.
Se não, teme o tempo,
Ou a si mesmo.
A veia biliosa do valente
Renega o medo dormente,
Que lá naquele filete medular
Se encerra.
Vez em quando
Um arrepio traidor,
Ou uma estranha onda de calor,
E vem o blefe:
“É aragem!”
“É mormaço!”
Na verdade, é humano!
Ou, antes, animálico!
Coragem só se cria
Onde há medo que preserve;
Só dura onde a precaução
é milimétrica.
Porque o sem-medo é l’oggi morto:
no primeiro embate peita o gume.
Isso é inscícia,
Não coragem.