Querem bater minha carteira
Dia desses vivi uma experiência
que achei que só os grandes latifundiários viveriam. Tentaram invadir terrenos
públicos do setor em que moro. É uma região de pequenas chácaras, de 5000
metros em média.
Chamou-me a atenção o fato de um
grupo armado de estacas, arame farpado e enxadas chegar, do nada, e começar a
medir a terra pública estabelecendo lotes. Puxa, só tinha visto coisa parecida
na televisão... e era o pessoal do MST tomando fazendas. Nem sabia que alguém
se organizava para invadir espaços urbanos.
De um lado a questão da
propriedade privada, do outro o direito à moradia. Nós, que sabemos o custo do
imóvel, debatíamos efusivamente tentando demover os invasores da idéia –
absurda para nós – de se estabelecerem em uma área de mato destinada a
equipamentos públicos (Cais, escola, praça, sei lá).
De resposta, tínhamos argumentos
tão equivocados: diziam que eram moradores do próprio setor e arredores e que
pagavam aluguel. Por não terem condições de comprarem uma casa, tinham direito
– embora admitissem que estavam fazendo algo errado – de cercar uma fração de
espaço público, que conforme diziam “não é de ninguém”, para exercer o direito
constitucional de moradia digna.
Sem querer parecer tão parcial, a
lógica era de ladrão: embora trabalhe, não tenho condições de comprar uma casa.
Vivo de aluguel. Outras invasões próximas deram certo. Vou tomar um lote no
espaço público.
Cheguei a tentar apontar a
falácia. Disse que se assim fosse, eu que não tenho um carro poderia
simplesmente tomar um na rua. Ah, diriam, mas esse é de alguém, o público não é
de ninguém. Não seja por isso. Se não tenho o carro, pego uma viatura comprada
pelo Estado então. Fato é que discordo absolutamente da ideia. O público é de
todos coletivamente, não individualmente.
Não descarto a possibilidade de
estar errado, mas, então, que me convençam com argumentos racionais, que não
subestimem minha inteligência. A impressão que eu tenho é que punguistas
estavam tentando roubar minha carteira sem sequer disfarçar ou agir veladamente.
Uma das invasoras fez um apelo à
misericórdia, acusando-nos de atentarmos contra Deus. Afirmou que Ele estava
vendo o que estávamos fazendo e que teríamos que prestar conta por não deixá-los
invadir.
Penso, repenso e remoo a situação
e lamento a lavagem cerebral que o governo Lula-Dilma fez com esse povo tão
necessitado. A política paternalista das bolsas-tudo, do MST, dos Sem-teto, do
nivelamento por baixo das profissões (veja o Mais Médicos), da crescente
favelização, gerou uma concepção equivocada do que é direito, do que é
democracia e política. Ao invés de aproximar as classes, as distancia cada vez
mais: economicamente, eticamente e intelectualmente. Põe uns contra outros. Os
mais pobres se ressentem contra a classe média, que se ressente contra os
ricos, que se ressentem contra todos.
O populismo garante votos da
maioria em um país predominantemente habitado por pobres. No entanto, divide,
puxa para baixo em vez de para cima, distancia do progresso. A cultura deveria
pender para a meritocracia, o Estado reduzindo sua tendência à “adoção” dos
indivíduos. A pessoa tem que produzir seu próprio progresso, bastando que o
Estado não atrapalhe (como faz no Brasil).
Não sou contra a função social da
propriedade, nem contra reforma agrária, ou qualquer ação que vise reduzir as
diferenças sociais, desde que isso seja feito de forma responsável e
consciente, respeitando o direito à propriedade, o esforço individual, a
não-violência. Como ensinava Gandhi, no caminho do meio está a solução ideal. O
que não é admissível é que um grupo desordeiro cresça o olho em áreas em
evidente valorização para enriquecer ilicitamente através da especulação dos
terrenos que invade.
Minha vizinhança é constituída por
gente instruída e com consciência social, apoiadora de projetos sociais e
ambientais. É um tapa na cara terem seu quintal invadido por aqueles que lhes
deveriam gratidão. Peço desculpas àqueles que entenderem diversamente.
Sonho um Estado mínimo, mas não a
anarquia. Espero uma nação que se autogoverne, mas quando tiver maturidade para
isso. Creio em um único caminho para a posse, a propriedade e o progresso: o
TRABALHO.
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