O Coletivo

Blog do escritor Juliano Rodrigues. Aberto a textos gostosos de quem quer que seja. Contato: julianorodrigues.escritor@gmail.com

quarta-feira, 11 de novembro de 2015


               
               GIRA
                                Juliano Barreto Rodrigues


Relembro a Consoada Deturpada
E invejo os vícios imorais...
Do enorme poetinha:
Vinícius de Morais!

Procuro encontrar com as palavras...
O ponto rico de fundição do bronze pobre
Que Xico Stockinger tão naturalmente obtinha.
Ostento elegantemente minha dor leminskiniana
E me embriago no barravento das minhas horas tortas.

Resfolegado me perco no quebra-cabeça,
Sem conseguir entender que imagem final deve ser montada.
Sou um mar de complexidades
Num poço de simplicidade.
O grande caberia no pequeno?

Quero a enxada de Machado
Para cavar no léxico
Todo o abrolho pontiagudo
Que ponteia minha alma nua

Vou vazar meus ais incoagulados pela rua,
Rubrear a passarela chique,
Lambrecando escarpins e wholecuts.
Gentil alcatifa escorregadiça,
A estatelar narizes enluarados,
Com suas arrebitadas petulâncias.

Dói que sobra!
Queria me enterrar no caracol da Quinta da Regaleira,
E me cobrir com um meteoro.

Mas a dor que mói também fecunda.
E quando a dor abunda,
Lucram os vinhedos, destilarias e alambiques.
(E como já lucraram comigo!)
Genuflectido, basbaque e aturdido
Vou amontoar a poça agoureira
Da hora-grande e mal iluminada na sarjeta.
Quantas videiras já consumi?

Quero me despir de mim,
Das opiniões formadas
E dos freios tolos que ostento.
Vou gritar na rua,
Porque faça o que fizer,
Há de ser tudo da lei.

Me enchi,
Agora quero esvaziar.
Formado, preciso romper com a forma.
Tirar os moldes e molduras,
Experimentar.

Basta a palavra!
Boa ou ruim, bela ou truncada,
Somente palavra minha:
Única, inimitável, solitária.

E que fira a quem atingir.
Contamine venereamente,
Tinja de lúgubre a lente,
... E de vivaz e iluminada a mente.

Mente! Mente que mente
Faz-nos pensar ser o que não somos
E acreditar ter visto o que não vimos.
E eu, que sou tão prolífico em desatinos?
Nado procurando a superfície,
Mas estou sempre nadando em mar onírico.

A memória me escapa feito peixe apanhado à mão livre.
Escorrega súbita,
Serpeia...
Agora aguinha rala e morrediça.
Nem as palavras sentidas me vêm à mente clarinhas.
Exigem um esforço,
Exercícios de associação.

UMA HORA E MAIS OUTRA (de Drummond)
“[...]
ei-la, a hora pequena
que desprevenido
te colhe sozinho
na rua ou no catre
em qualquer república;
[...]”

Vira, gira mordaz,
Come voraz meu Eu.
Esvazia meu corpo da minh’alma,
Suga o sumo.

Eu, desunido mais que uno,
Acabo-me na absurda crença de que existo.
Logo eu, que me acreditava tão benquisto,
Agora mofo no ventre de Juno.

Sossega, malograda!
Que de tantos nomes que já teve,
Maleita, Gripe Espanhola, Peste Negra,
Acabaste inominada e malquista,
Tanto difamada quanto malvista.
Ainda que queiras, não sou teu!
Pode me levar, ainda não serei teu!
Sorte sua ter comigo,
Ventura minha, hora dessas ter contigo.
Que de ti não corro, antes te desejo.
Na hora última seja cuidadosa,
Que se puder, te levo junto!

Kkkkk!


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