IMPRESSÕES SOBRE O LIVRO
O RETRATO DE DORIAN GRAY
Juliano
Barreto Rodrigues.
Oscar
Wilde publicou o romance gótico-filosófico O
Retrato de Dorian Gray,
inicialmente em fascículos mensais na revista literária
Lippincott's
Monthly Magazine
, no ano de 1890.
Li
O
Retrato de Dorian Gray em
PDF no smartphone,
numa versão em espanhol. A base da história todo mundo conhece: o
protagonista Dorian é pintado por alguém e, a partir daí, só seu
retrato envelhece, ele não, o que gera consequências funestas para
Dorian e os que com ele convivem. Parece simples, mas é claro que
não é só isso e, pela gama de situações suscitadas, rendeu um
romance que virou um clássico, inspirador de várias outras obras
literárias e cinematográficas, com este personagem ou com tramas
parecidas.
O tema é o desejo
de viver eternamente e numa eterna juventude (semelhanças com os
vampiros não são meras coincidências), sofrendo as consequências
desse esquema antinatural, que parece mais castigar do que abençoar
seus escolhidos. É o retrato narcísico absoluto, de quem quer
perpetuar a beleza, sem jamais envelhecer nem morrer. É um tema
atual em todos os tempos, o que faz da obra universal e atemporal.
Acredito
que a maioria dos leitores tenha lido a obra em outra fase da vida,
mais novos que eu, fase em que o proveito com o aprendizado, positivo
ou negativo (o livro foi objeto de inúmeras críticas, considerado
má influência) deve ter sido ainda maior. Embora seja um romance –
pelo tamanho – prefiro pensar nele como uma novela – pela
velocidade do enredo, a leveza do texto, o número restrito de
personagens.
Embora
Dorian seja o protagonista, Lord Henry (a quem Dorian chama de Harry)
é muito mais interessante. Harry, assim como o próprio Dorian, é
membro da aristocracia e frequenta os salões da corte. Ambos agem
como personalidades à frente do seu tempo, mas são exatamente
aquilo que se espera deles: extravagantes, cínicos, sem qualquer
ocupação útil, bem ao estilo playboy
dos
nossos tempos. Mas Harry (prefiro falar assim, com intimidade) traz,
em todas as suas conversas, uma filosofia hedonista e revolucionária
bem interessante. Toca naquilo que comumente se classifica de
futilidade como o que realmente importa na vida (por isso me
identifico).
O outro personagem,
Basil, pintor do retrato, é secundário. Além dele, de Dorian e de
Harry, só uma moça a quem Dorian namorou tem importância maior na
história. O narrador, onisciente em terceira pessoa, é a voz
predominante e possui a qualidade de servir à trama, não se
destacando. É possível ver as cenas, sentir os cheiros, gostos e
emoções narrados. Há apenas alguns excessos nas descrições de
joias, tapeçarias, etc., que tornam chatas umas poucas passagens do
livro, mas têm sua importância como registro de época para
historiadores e interessados nos assuntos de que tratam.
Considerei
superficiais as incursões do narrador na psique dos personagens.
Dada a natureza do tema, poderiam ter sido mais profundas e
impactantes, valorizando os resultados das ações na alma dos
envolvidos. Mas, talvez, o aprofundamento se desse em detrimento da
fluidez do texto, então, respeito a escolha do autor. Afinal, o tema
é tão bom que fala por si, ficou no imaginário coletivo, o criador
conseguiu passar muito bem o recado.
É uma leitura
agradável, para ser feita como faço: aos poucos, sem pressa, nada
daquilo de “ler de uma sentada só”. É preciso saborear as
conversas de Lord Henry, refutá-las ou adotá-las, se transformar
com elas, bem como analisar criticamente as ações de Dorian. O
certo é que, lendo atentamente, não se sai incólume do contato com
este livro.
Ressinto-me
do final do livro ser tão apressado. O texto vai indo em um ritmo e,
mais ou menos nas últimas seis páginas, corre para a solução, que
poderia ser mais trabalhada, mais lenta, mais valorizada.
Saio da leitura como
se deve sair da degustação de um bom livro: marcado!
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