Por Juliano Barreto Rodrigues
A Vida Privada das Árvores. Livro de Alejandro Zambra,
numa edição muito bonita da Cosac Naify.
A leitura de Alejandro Zambra foi super-recomendada
por diversos vlogueiros. Após uma breve pesquisa sobre o autor, me interessei.
Chileno, 42 anos, escritor, professor e crítico
literário, premiado em 2007 como um dos 39 mais importantes escritores
latino-americanos com menos de 39 anos, eleito pela revista britânica Granta
como um dos 22 melhores escritores de língua espanhola com menos de 35 anos, é
conhecido por romances curtos, que se lê em uma sentada.
Antes da leitura não quis ver nenhuma resenha ou
crítica sobre o livro, para não me contaminar. Assisti uma entrevista que ele
concedeu a Rodrigo Simon (Cf. <https://youtu.be/44YwyJNX0V0>), em que
fala de outro romance seu, e me incomodou um pouco suas caras e bocas, a pose
de grande escritor, os trejeitos de “inteligentão”. Mas esqueçamos o autor, ele
não vem ao caso.
Ao que interessa: o livrinho é rápido, com um tema
que até poderia ser interessante, se o tratamento dado não fosse tão
superficial. É literatura para se ler no aeroporto, enquanto se espera um voo.
Um passatempo bem despretensioso e insípido. Ruim? Naõ! Mas também não chega a
ser bom.
O professor de literatura e aspirante a escritor Julián espera a chegada de sua mulher Verónica, que parece que nunca chega. Ele conta histórias de árvores para sua enteada Daniela enquanto espera. Vai relembrando seu passado e imagina como seria um futuro sem Verónica.
A auto-referência ao próprio romance, como recurso de
metalinguagem, com o narrador “quebrando a quarta parede” e falando abertamente
ao leitor, lembra o tempo todo que é só uma história, dificultando uma imersão
maior. Por outro lado, essas intervenções são muito interessantes para análise
em cursos de escrita criativa ou criação literária. Aliás, por essas e outras –
e até por ser curto -, seria perfeito para essa finalidade.
Falemos um pouco sobre o primeiro
parágrafo do livro. É assim:
JÚLIAN DISTRAI A MENINA
COM A VIDA PRIVADA DAS ÁRVORES, uma série de histórias que inventou para
fazê-la dormir. Os protagonistas são um álamo e um baobá que de noite, quando
ninguém está vendo, conversam sobre fotossíntese, esquilos, ou sobre as
numerosas vantagens de serem árvores e não pessoas ou animais ou, como eles
dizem, estúpidos pedaços de cimento.
Justifica o título do livro, mas seria
dispensável no lugar que ocupa – principalmente porque o segundo parágrafo
apresenta o enredo de forma mais competente. Mas esse primeiro parágrafo é
bonito por si só, lírico e ingênuo, remete à ideia da infância e amortiza a
entrada abrupta no texto. Parece-me, nesta época de ditadura dos primeiros
parágrafos impactantes, uma bem-vinda resistência à estandardização.
O narrador e Julián, o personagem principal, usam
aquela forma primária de pensamento crítico da negativa vazia, sem
justificação, caracterizada por frases do tipo “blá-blá-blá, blá-blá-blá, ou
não...”, como se o “ou não”, disparador de uma incerteza (que não é
desenvolvida a seguir), servisse para dar a impressão de profundidade dialética
e inteligência do narrador e da personagem.
Na página 20 há uma discussão interessante sobre
arte. É feita uma crítica sobre as “modas artísticas” dos professores de arte
da universidade e de como os jovens artistas imitam, à perfeição, o “dialeto da
academia”. Por fim, e não só por esses motivos, a personagem Verónica, após
deixar a faculdade de artes, se vê confortável na condição de amadora.
O livro é curto, mas extensão não é problema, até
porque há coisas magníficas – principalmente em poesia e microcontos – que não
ocupam meia página. Dá para ser profundo e envolvente em poucas linhas.
Não há uma trama interessante, embora isso pudesse ser
indiferente se a forma em si prendesse. Classifico o livro como uma literatura
pré-adultescente, se isso existisse. É que nem é infanto-juvenil, nem adulta de
verdade: trata bem en passant,
ingenuamente, o enredo, sem acrescentamentos ao repertório psicológico de um
leitor adulto.
Quando estava na página sessenta fiz meu exercício de
previsão do final. Pensei em dois finais: um me faria odiar o livro, o outro
seria apenas previsível. Deu este, que também é ótimo exemplo para discussão em
workshops literários. Não que o final
seja muito importante: há literaturas de meio, em que a forma, a escrita em si,
protagoniza, nas quais pouco interessa o final (na verdade, a vontade é que a
leitura nem termine).
A Vida Privada das Árvores é recheado de recursos estilísticos
que são formulazinhas consagradas de grandes literaturas, mas é raso (podem
argumentar que foi intencional... pode ser), sem “liga”, sem impacto. O
problema é a linguagem mesmo. Não toca, não prende. A gente só termina o livro
porque ele é do tamanho de um capítulo, se não, não dava.
Sou contra críticas, principalmente se não estou
mostrando obra minha que suplante a criticada. Mas sou um leitor competente,
falo como leitor. É só uma opinião honesta.
Se recomendo o livro?
Sim. Como entretenimento light, quase
sem glicose nem cloreto de sódio.
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