Juliano Barreto
Rodrigues
Estava
na fila do supermercado e, tentando driblar a impaciência, procurei algo com o
que me distrair. “Plim”, o anel do rapaz que estava na minha frente me chamou a
atenção. Anel de ouro fraco, com aquela pedra falsa que imita Rubi, sinal dos
formados em Direito. Descombinava muito do tipo que o portava: m rapaz de uns
vinte e poucos anos, cabelos descoloridos e arrepiados com fixador, camiseta
sem mangas, bermuda surfista e chinelos de dedo. Uma figura pitoresca! Pensei comigo
(preconceituosamente talvez) que até “coisa de velho” havia se tornado objeto
de ostentação.
Antes
de surgirem as primeiras faculdades de Ciências Sociais e Jurídicas em Recife e
em São Paulo os pais mandavam seus rebentos para Coimbra na intenção de
fazê-los homens de leis. Lá o bacharel, quando estendia os estudos e se tornava
Doutor, passava a ter direito à pedra rubra no anel. Os maganos brasileiros
quando voltavam ao Brasil, sem sequer se doutorarem, ostentavam seus rubis e
exigiam o tratamento correspondente. Vem de longe a mania de querer parecer o
que não é.
Os
esnobes e Dandi’s de outrora tinham, pelo menos, recheio. Um Baudelaire, um
Oscar Wilde, eram exibidos mas tinham conteúdo. Isso os diferenciava. Hoje se
encapa o vazio com uma veste duvidosa, que tenha uma marca reluzente, e pronto,
o indivíduo sai à rua se achando um superstar.
Pior é que a ilusão de se distinguir vai engrossando o rol dos igualmente diferentes.
Me deu
saudade daquele tempo em que alguns ostentavam livros. Havia mais charme na
promessa que traziam. Hoje é Daslu, Nike, La Bela Máfia, colar de ouro maciço,
fotografia com dinheiro na balada, braços e pernas “bombados”, com tatuagens no
estilo da moda, o pacote todo. A marionete que tem o combo se acha.
O
abstrato, o simbólico, substituiu o ser. As pessoas não se falam para deixar
uma impressão, se mostram. Na era da velocidade, do carpe diem, e do superficial, difícil é manter a primeira imagem
por um tempo. Desmascarado, o indivíduo tem que fazer sua performance para
outras bandas.
Goffman,
em seu livro A Representação do Eu na Vida Cotidiana, demonstrou como os atores
da vida social são levados a representar os papéis que deles se espera e que há
uma certa polícia dos costumes que rechaça aqueles que trazem discursos
discrepantes. Aí perpetua-se a contradição: ninguém quer ser igual a ninguém,
mas as diferenças são condenadas. Então surgem os igualmente diferentes.
Nesse
jogo não há ética, vale a roupa falsificada, os óculos emprestados, tirar foto
no carro do vizinho. O ter sobrepujou o ser. Me consolo imaginando que por trás
daquele anel de grau talvez exista um grau de verdade.
[1] Crônica que
alcançou nota máxima na prova de redação do vestibular em Jornalismo, da UFG,
na modalidade “portador de diploma”, no processo seletivo 2015-1.
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