O Coletivo

Blog do escritor Juliano Rodrigues. Aberto a textos gostosos de quem quer que seja. Contato: julianorodrigues.escritor@gmail.com

terça-feira, 1 de dezembro de 2015



BORRASCA

                                           Juliano Barreto Rodrigues

Meu cenho obstinado
Nada tem a ver com o meu peito acabrunhado.
O sobrolho em fogo ardente
Nada pode contra meu coração gelado.

O candeeiro que ostento
Não ilumina nem um palmo.
E não há acalento ou salmo
Que possa com meu tino baldo.

Estou mais sem rumo
Do que um cisco ao vento,
Que nem sequer emite lamento se,
No seu caminho, um sopro sopre fora de prumo.

Minha caixinha de palavras
Não chega para o turbilhão de sentimentos que me mata.
Não dá conta da mínima lágrima.
E eu..., que confiava tanto na palavra?

Meu verso é pedra quadrada e tosca,
Que não rola moldada e exibida.
Não tem ritmo, nem rima, nem métrica.
É só fado que lastima a vida.

Assim, pasmo calado,
Sem única letra, seja vogal ou consoante,
Em árabe, português ou dialeto.
Eu silencio acre, mas diamante!

(No arado ressequido,
Nem se esforçando nasce nada.
Mas contra toda expectativa,
Às vezes um broto irrompe vitorioso).

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É meia-noite, de boca seca e ressaca.
Última noite para mim, que não espero por mais nada.
Rasga a seda, eviscerada.
Come minha carne, meu cérebro, a cara!

(Basta! Que vil lamento.
Nada reflete o que trago por dentro.
Então cala-te, puto!
Respeite tudo que não pode ser dito).

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Fecha e tranca o riso astuto
Tão ínfimo e dissoluto,
Que de vergonha já devias ter enterrado.
Tu, que fazes cara de augustus, mas não passas de um bruto.

Caçoa...
Que é de tu, atoa,
A mágoa,
Que tão sonora e túrgida em mim ressoa.



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