BORRASCA
Juliano Barreto Rodrigues
Meu cenho
obstinado
Nada tem a
ver com o meu peito acabrunhado.
O sobrolho em
fogo ardente
Nada pode
contra meu coração gelado.
O candeeiro
que ostento
Não ilumina
nem um palmo.
E não há
acalento ou salmo
Que possa com
meu tino baldo.
Estou mais
sem rumo
Do que um
cisco ao vento,
Que nem
sequer emite lamento se,
No seu
caminho, um sopro sopre fora de prumo.
Minha
caixinha de palavras
Não chega
para o turbilhão de sentimentos que me mata.
Não dá conta
da mínima lágrima.
E eu..., que
confiava tanto na palavra?
Meu verso é
pedra quadrada e tosca,
Que não rola
moldada e exibida.
Não tem
ritmo, nem rima, nem métrica.
É só fado que
lastima a vida.
Assim, pasmo
calado,
Sem única
letra, seja vogal ou consoante,
Em árabe,
português ou dialeto.
Eu silencio
acre, mas diamante!
(No arado ressequido,
Nem se
esforçando nasce nada.
Mas contra
toda expectativa,
Às vezes um
broto irrompe vitorioso).
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É meia-noite,
de boca seca e ressaca.
Última noite
para mim, que não espero por mais nada.
Rasga a seda,
eviscerada.
Come minha
carne, meu cérebro, a cara!
(Basta! Que
vil lamento.
Nada reflete
o que trago por dentro.
Então cala-te,
puto!
Respeite tudo
que não pode ser dito).
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Fecha e
tranca o riso astuto
Tão ínfimo e dissoluto,
Que de
vergonha já devias ter enterrado.
Tu, que fazes
cara de augustus, mas não passas de
um bruto.
Caçoa...
Que é de tu,
atoa,
A mágoa,
Que tão
sonora e túrgida em mim ressoa.
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