LIÇÃO TRIVIAL
(homenagem a Denis Barreto, futuro juiz federal)
Juliano Barreto
Rodrigues
O juiz novato, ansioso em sair do interiorzinho para a capital, pegou
um caso importante que, pela repercussão, e dependendo dos
interesses em jogo, lhe renderia a nova lotação que desejava.
De um lado uma banca com dezesseis advogados de uma grande firma,
defendendo o lado de uma megaempresa. Do outro, um advogadozinho
pobre e caipira em defesa das vítimas de um acidente ambiental.
Poderosos pela empresa, um caso legítimo e justo do lado do
solitário advogado. Se decidisse pela multinacional, o juiz iria
para a capital promovido. De outra forma, enterraria a carreira na
cidadezinha.
Já tinha decidido, mas teve uma visita inesperada. O causídico da
roça chegou em mangas de camisa e com barba por fazer. Disse com
sotaque carregado:
– O doutor tem filhos?
– Tenho dois, por que?
– Foi delegado e promotor, não é?
– Sim.
– O que quer deixar para eles quando se aposentar? A sombra do
delegado e do promotor que era, as histórias do juiz de sucesso que
foi, ou o exemplo de homem honrado e justo que continuará sendo?
Pronto! O juiz foi despertado. Julgou com consciência e justiça.
Dali para frente, não se importava mais em viver na corrutela. Lá
fez carreira e foi muito feliz. Só foi para a capital quando se
tornou desembargador – e partiu para a cidade grande com pesar.
Criou filhos muito dignos e se deitava todas as noites com o corpo
cansado mas a cabeça leve por ter escolhido fazer sempre o que é
certo. Seu grande exemplo orgulhou a família e perdurou por várias
gerações.
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