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segunda-feira, 24 de agosto de 2020

Rapidíssimas impressões sobre o conto "A Luz é como Água", de Gabriel García Márquez

 


Rapidíssimas impressões sobre o conto "A Luz é como Água", de Gabriel García Márquez

(Por Juliano Barreto Rodrigues)


O "realismo mágico", movimento literário em que o escritor Gabriel García Márquez mais se destacou, joga com a disposição do leitor de se dar à fantasia. É como nas peças representadas no teatro: o espectador sabe que atores apenas representam, mas topa a ilusão, participa acreditando, para poder sentir aquilo que a peça traz. No caso do realismo mágico, em que o autor ‘viaja’, criando cenas, ou personagens, ou situações e diálogos, claramente impossíveis racionalmente, o leitor tem que estar suscetível e disposto a embarcar na ilusão. Nesse sentido, considero que seja uma literatura de extremo, de limite, que pode dar muito certo ou muito errado, porque as impossibilidades têm que ser, a despeito de impossíveis, muito verossímeis. No mínimo o leitor tem que estar tão enlevado pela escrita que suas sensações ultrapassem a necessidade de coerência racional absoluta. Isso não é comum em toda literatura? Sim, mas no caso do realismo mágico... é pressuposto.

Quem teve o privilégio de ler Cem Anos de Solidão sabe que Gabo (apelido do autor, que os leitores apaixonados por sua escrita, como eu, adoram usar para sentir uma ilusão de intimidade) domina essa forma de escrita totalmente. É um prestidigitador da palavra, um habilidoso enredador, que leva os leitores para onde quer. Esse é meu jeito de dizer que ele é um grandissíssimo escritor de ficção. 

O conto A luz é como água dá um gosto do que é a escrita de Gabo. Você escorrega da realidade para o onírico sem ver, como se estivesse sentado, dormisse sem sentir e, de repente, estivesse no meio de um sonho mágico, do qual você também acorda sem perceber, olha para os lados para ver se o que estava sonhando está mesmo acontecendo. Engraçado é que as coisas são pertinentes, tem algum rumo, levam a algum sentido (coisa que os sonhos malucos não costumam ter). 

Quem não vê aquela torrente dourada quando lê a parte da luz escorrendo do prédio? É falsa? Claro que não. É super verdadeira na nossa imaginação. É ou não é? É essa a mágica que Gabo faz com as palavras.

 

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