O Coletivo

Blog do escritor Juliano Rodrigues. Aberto a textos gostosos de quem quer que seja. Contato: julianorodrigues.escritor@gmail.com

segunda-feira, 6 de abril de 2015

COMÉDIA DAS APTIDÕES (OU O PARADOXO DOS TALENTOS FARTOS)

 
         
                                                              Juliano Barreto Rodrigues

Sentado no botequim da esquina, tomando cerveja e comendo espetinho com um amigo de infância que me cobrou lhe pagasse uma, de repente ele me saiu com essa:
- Poxa, você é realmente um cara com muitos talentos.
- É, já me disseram isso algumas vezes.
- Toca violão, pinta, escreve, tem mestrado, é concursado e faz até massagem.
- Verdade.
- Ainda se mete com umas coisas bem diferentes: uns filmes daqueles preto-e-branco que só você vê, coleciona livros antigos, tatua aos fins de semana, degusta charutos cubanos, joga búzios, vai na maçonaria, investiga os outros, lê bula de remédio..., que mais você faz?
- Faço a sobrancelha da minha mulher, entre outras coisas.
- Ah, para tudo! Tá falando sério? Putz, de que mundo você é?
- Só procuro fazer tudo que acho interessante, senão morro de tédio.
- Tá, tirando os excessos esquisitos, qual seu maior talento?
- Tenho um bem grande, que me intriga muito.
- Deve ser super exótico.
- Tenho um talento inato para não ganhar dinheiro.
- Como assim?
- Veja você: é verdade que sei e faço tudo que falou, algumas coisas de forma melhor que outras, mas faço. E ainda assim, tirando minha profissão oficial, praticamente nadinha disso me dá dinheiro.
- Não cobra?
- Por quase nada. O que não faço por hobbie é para os amigos, que sempre vêm com aquela conversa: “pô, quanto você faz pra mim?” E como não sou bom para por preço, fica tudo na camaradagem.
- Eu já estaria rico com a inteligência que você tem.

- Qual? O que eu tenho são muitos talentos. Se eu fosse inteligente, EU MESMO estaria rico. 

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