Recheio de caracóis bisotados e ocos
de claraboias escuras
Luzes e sombras e brilhos espocados,
Nuançados de cheiros acres.
E caminhos despedaçados,
Picotados de encruzilhadas soltas
E olhares perdidos presos em
estranhos passados e expectativas de porvires.
Caminham arquétipos entre as gentes,
Rastreando vermes humanos portadores
de algum tiquinho de centelha a que tomar.
E, assim, os potentes seguem
esvaziando os frágeis.
E a natureza segue seu rumo maquinal
e (in)justo.
Epitáfios brotam como parte dos ossos
enterrados
Na tentativa de dar mais um minuto de
eternidade à existência tão fugaz.
O que move o homem é a ilusão!
Como gosta de se iludir...
Cravejados de swarovskis, dedos não
são mais dedos;
Sob chapéus de veludo cabeças são
coroadas;
Símbolos, adornos, mesuras, engodos:
E demônios são criados
E deuses são criados
E entre eles uma enormidade de
criaturas mediadoras.
(A regra, é não falar diretamente,
não dizer por si
É ter advogado, facilitador,
padrinho).
Liquors para sorver de canudinho
Sugados com voraz perversidade...
Olhos apertados agudamente,
Disfarçando em azedume a doçura que
se abraça.
É preciso quebrar os eixos,
Definitivamente!
Tanta fantasia não há de ser
saudável.
Tanta realidade, muito menos.
Algum sentido maior é necessário,
As coisas não podem ser apenas o que
são.
Sussurram alentos pobres em ouvidos
desconfiados,
Que se fazem de moucos para não ter
que dar recibo do que ouvem.
E, da crença e descrença, restolhos
são juntados
E se constroem existências dos
pedaços.
Liberdade do inferno ou prisão
celeste?
É difícil pensar para além dos dogmas
incrustados desde a infância.
E corre-se o risco de ser acusado de
insolente, de herege, infame, blasfemador.
Traquitanas, pecinhas, engrenagens
desgastadas
Graxas velhas, coisas soltas,
<Vibram>
Mas funcionam.
Hum... mais... ou menos.
De monóculo pendurado, luvas brancas
e relógio de bolso
Uma estranha figura de outrora
caminha na chuva dos pensamentos.
Lembrança imaginária de um tempo
silencioso e lento
De ar mais respirável e
comportamentos mais respeitáveis.
Jogo a pedra para o horizonte
Na esperança de que algum ente
sagrado não a deixe cair
E que faça dela a pedra fundamental
de algo bom e diferente,
Que dê concretude à fé dos homens.
Enquanto isso,
Vou embaralhando letras soltas
E vendo no que vão dar.
[É que as coisas se escrevem
sozinhas, não tenho nenhum poder sobre elas.
Bem
queria].(Poema premiado no 3º Prêmio Literário de Poesia Portal Amigos do Livro - 2013 - publicado em antologia).
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