O Coletivo

Blog do escritor Juliano Rodrigues. Aberto a textos gostosos de quem quer que seja. Contato: julianorodrigues.escritor@gmail.com

quarta-feira, 1 de abril de 2015

DELÍRIOS Juliano Barreto Rodrigues



Recheio de caracóis bisotados e ocos de claraboias escuras
Luzes e sombras e brilhos espocados,
Nuançados de cheiros acres.
E caminhos despedaçados,
Picotados de encruzilhadas soltas
E olhares perdidos presos em estranhos passados e expectativas de porvires.

Caminham arquétipos entre as gentes,
Rastreando vermes humanos portadores de algum tiquinho de centelha a que tomar.
E, assim, os potentes seguem esvaziando os frágeis.
E a natureza segue seu rumo maquinal e (in)justo.
Epitáfios brotam como parte dos ossos enterrados
Na tentativa de dar mais um minuto de eternidade à existência tão fugaz.

O que move o homem é a ilusão!
Como gosta de se iludir...
Cravejados de swarovskis, dedos não são mais dedos;
Sob chapéus de veludo cabeças são coroadas;
Símbolos, adornos, mesuras, engodos:
E demônios são criados
E deuses são criados
E entre eles uma enormidade de criaturas mediadoras.
(A regra, é não falar diretamente, não dizer por si
É ter advogado, facilitador, padrinho).

Liquors para sorver de canudinho
Sugados com voraz perversidade...
Olhos apertados agudamente,
Disfarçando em azedume a doçura que se abraça.

É preciso quebrar os eixos,
Definitivamente!
Tanta fantasia não há de ser saudável.
Tanta realidade, muito menos.
Algum sentido maior é necessário,
As coisas não podem ser apenas o que são.

Sussurram alentos pobres em ouvidos desconfiados,
Que se fazem de moucos para não ter que dar recibo do que ouvem.
E, da crença e descrença, restolhos são juntados
E se constroem existências dos pedaços.
Liberdade do inferno ou prisão celeste?
É difícil pensar para além dos dogmas incrustados desde a infância.
E corre-se o risco de ser acusado de insolente, de herege, infame, blasfemador.

Traquitanas, pecinhas, engrenagens desgastadas
Graxas velhas, coisas soltas,
<Vibram>
Mas funcionam.
Hum... mais... ou menos.

De monóculo pendurado, luvas brancas e relógio de bolso
Uma estranha figura de outrora caminha na chuva dos pensamentos.
Lembrança imaginária de um tempo silencioso e lento
De ar mais respirável e comportamentos mais respeitáveis.

Jogo a pedra para o horizonte
Na esperança de que algum ente sagrado não a deixe cair
E que faça dela a pedra fundamental de algo bom e diferente,
Que dê concretude à fé dos homens.
Enquanto isso,
Vou embaralhando letras soltas
E vendo no que vão dar.
[É que as coisas se escrevem sozinhas, não tenho nenhum poder sobre elas.
Bem queria].



(Poema premiado no 3º Prêmio Literário de Poesia Portal Amigos do Livro - 2013 - publicado em antologia).


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