O Coletivo

Blog do escritor Juliano Rodrigues. Aberto a textos gostosos de quem quer que seja. Contato: julianorodrigues.escritor@gmail.com

domingo, 12 de abril de 2015

PORTÃO


Juliano Barreto Rodrigues.

Bateu com ambas as mãos, como se quisesse arrombar o portão. Estremeceu o batente, abalando o portal. Então, fez funcionar a maçaneta repetidamente, como se, pela insistência, ela fosse desistir e abrir, franqueando-lhe a entrada. Chutou e berrou a plenos pulmões, ordenando que alguém o deixasse entrar. Nada! Nem uma frestazinha, nem resposta lá de dentro. Incendiou-se ainda mais em ira, ameaçou pôr a baixo o portão, postou-se a meia distância, fez pose, relutou por um átimo de tempo, apontou e, de supetão, pôs-se em movimento. Bateu tão fortemente com o ombro que sentiu a resistência ceder. O mal foi que o portão respondeu com toda sua inércia, e o que o desajeitado pretenso arrombador sentira ceder foram seus ossos e nervos, agora esfacelados e lesados pela pancada.
Baixando a adrenalina, subiu a dor. Agora, era um idiota bruto, vencido por uma porta esnobe, que nem lhe respondia. Roto, suado, descabelado e ofegante, escorregou lentamente com as costas no portão até quedar-se estático, sentado na soleira. Blasfemou com o pouco de forças que ainda tinha, foi tomando tino da própria sorte, avaliou os motivos de tal desespero... foi sendo convencido, pela lógica, de que fizera um papel tão miseravelmente infantil e tolo, que seu respeito próprio demoraria a dar as caras de novo.

Não! Não! Não podia aceitar isso. Levantou contorcendo-se, bateu as roupas com as mãos, empertigou-se na medida do possível, passou a mão nos cabelos desgrenhados, ajeitou o terno em desalinho, lambeu a cara com o lenço, olhou com ódio para as abas trancadas de seu adversário de aço como se o ameaçando, então partiu rua abaixo, trôpego, prometendo tomar providência à altura daquele maldito e indolente portão.

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