Juliano Barreto Rodrigues.
Bateu
com ambas as mãos, como se quisesse arrombar o portão. Estremeceu o batente,
abalando o portal. Então, fez funcionar a maçaneta repetidamente, como se, pela
insistência, ela fosse desistir e abrir, franqueando-lhe a entrada. Chutou e
berrou a plenos pulmões, ordenando que alguém o deixasse entrar. Nada! Nem uma
frestazinha, nem resposta lá de dentro. Incendiou-se ainda mais em ira, ameaçou
pôr a baixo o portão, postou-se a meia distância, fez pose, relutou por um
átimo de tempo, apontou e, de supetão, pôs-se em movimento. Bateu
tão fortemente com o ombro que sentiu a resistência ceder. O mal foi que o
portão respondeu com toda sua inércia, e o que o desajeitado pretenso
arrombador sentira ceder foram seus ossos e nervos, agora esfacelados e lesados
pela pancada.
Baixando
a adrenalina, subiu a dor. Agora, era um idiota bruto, vencido por uma porta
esnobe, que nem lhe respondia. Roto, suado, descabelado e ofegante, escorregou
lentamente com as costas no portão até quedar-se estático, sentado na soleira.
Blasfemou com o pouco de forças que ainda tinha, foi tomando tino da própria
sorte, avaliou os motivos de tal desespero... foi sendo convencido, pela lógica,
de que fizera um papel tão miseravelmente infantil e tolo, que seu respeito
próprio demoraria a dar as caras de novo.
Não!
Não! Não podia aceitar isso. Levantou contorcendo-se, bateu as roupas com as
mãos, empertigou-se na medida do possível, passou a mão nos cabelos
desgrenhados, ajeitou o terno em desalinho, lambeu a cara com o lenço, olhou
com ódio para as abas trancadas de seu adversário de aço como se o ameaçando,
então partiu rua abaixo, trôpego, prometendo tomar providência à altura daquele
maldito e indolente portão.
Nenhum comentário:
Postar um comentário