JULIANO BARRETO RODRIGUES
No primeiro capítulo da minha dissertação de mestrado, intitulada A VERDADE DOS AUTOS VERSUS A VERDADE REAL NA JUSTIÇA CRIMINAL (disponível em: <http://tede.biblioteca.ucg.br/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=1609> ) há uma interpretação que fiz de um desenho a Nankim sobre papel, de Francisco José de Goya, chamado El sueño de la razon produce monstruos (1799), falando da crença do conhecimento da verdade:
No primeiro capítulo da minha dissertação de mestrado, intitulada A VERDADE DOS AUTOS VERSUS A VERDADE REAL NA JUSTIÇA CRIMINAL (disponível em: <http://tede.biblioteca.ucg.br/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=1609> ) há uma interpretação que fiz de um desenho a Nankim sobre papel, de Francisco José de Goya, chamado El sueño de la razon produce monstruos (1799), falando da crença do conhecimento da verdade:
Francisco José de Goya, pintor romântico espanhol (1746-1828),
criou, a nanquim, no desenho número quarenta e três de sua série Caprichos, um
quadro intitulado El sueño de la razon produce monstruos (1799), que
apresenta, em primeiro plano, um homem sentado, debruçado sobre uma
escrivaninha em que há material de escrita e leitura, dormindo, mãos
sobrepostas e a cabeça mergulhada entre os braços, pernas cruzadas – postura
que sugere o fechamento em si mesmo, medo e estagnação.
Corujas e morcegos sobrevoam e atacam o personagem central e dois
gatos o espreitam: um às suas costas, outro aos seus pés. Uma das corujas se
sobressai, de asas abertas, acima das suas espáduas, suas asas parecendo do
próprio homem, graças à estratégia pictórica do jogo de luz e sombras, que as
colocam no plano paralelo ao do personagem.
Os animais são imagens do seu sonho, seus monstros, e representam
a situação do próprio personagem. Jung esclarece:
Em
oposição à opinião freudiana bem conhecida segundo a qual o sonho em essência
não é senão a ‘realização de um desejo’, eu adoto, com um amigo e colaborador,
A. Maeder, a opinião de que o sonho é uma auto-representação,
em forma espontânea e simbólica, da situação atual do inconsciente [...]
Toda a elaboração onírica é essencialmente subjetiva [...] Esta interpretação,
como diz o próprio termo, concebe todas as figuras do sonho como traços
personificados da personalidade do sonhador (JUNG, 2006, p. 202).
Os animais da cena são, culturalmente, conhecidos no ocidente como
agoureiros, representando superstições, o medo do desconhecido, as forças
ocultas. A coruja, por sua vez, também simboliza a sabedoria.
O cenário é noturno. Apesar da imagem forte, a frase grafada na
mesa – El sueño de la razón produce
monstruos – lhe compete em destaque. Imagem e texto harmonizam-se
perfeitamente, um facilitando a explicação do outro, reforçando mesmo a
mensagem do outro, recurso muito utilizado em cartoons (1).
Se o observador semicerrar os olhos ao olhar o homem, além de
parecer ter asas parece ter também cauda. Este efeito é conseguido pela
disposição da coruja iluminada que se sobressai em seu quadril. O ser dual,
anjo-besta, está assim representado subliminarmente.
A mensagem sugere que a arrogância intelectual de crer/sonhar ter
alcançado a razão, a certeza das coisas, produz monstros. A imagem pintada
lembra que a ignorância e o apego às crenças arraigadas acompanham o ser e o
envolvem, além do que, a razão não dá conta de todas as coisas.
A alusão a “monstros” induz à conclusão de que a crença em ter
encontrado uma certeza absoluta acerca de algo é ilusória e pode gerar
prejuízos (2). Sob certos dogmas e suas diretrizes, muitas arbitrariedades
podem ocorrer (e a história coleciona inúmeras provas disso).
([1]) O significado original
da palavra cartoon é "estudo", ou "esboço", e é utilizado
nas artes plásticas. Um cartoon, càrtúne, ou cartum, é um desenho humorístico
ou satírico, acompanhado ou não de legenda, de caráter crítico, retratando de
uma forma bastante sintetizada algo que envolve o dia-a-dia de uma sociedade.
(2) No sentido de juízos apressados, danosos.
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