Tenho o hábito de beber uma cervejinha em casa nas tardes dos fins de semana. Bebo sozinho, vendo a linda paisagem de quem mora numa chácara nos arredores da cidade. Ufa, enfim um lugar que dá para ver o céu do fim de tarde, aliás, de todas as horas.
Então... (como diz minha amiga Nathany),
nesses momentos mágicos de torpor terapêutico, sempre viajo naqueles temas
clichê que desde sempre intrigam as pessoas: vida, morte, amor... coisas sobre
as quais Carlos Drumond de Andrade aconselhou aos poetas menores nunca se
meterem a escrever.
Mas como sou desobediente, um típico
modelinho da geração “X,Y”, que não dá muito moral para as grandes autoridades,
às vezes me aventuro por essas paragens. É que parece que tais elucubrações
abstratas fazem parte do desenvolvimento natural de qualquer ser humano. Então,
em vez de altas temáticas, na verdade estamos falando de senso comum, de temas
chinfrins. Deve ser por isso que o mestre disse para não se aventurar nisso; é
porque são comezinhos, démodé (alguém ainda usa esse termo?), bregas mesmo.
A gente se mete com eles porque nos
dão perspectiva, são icônicos; tirando a morte, são a medida do regozijo.
Traçamos um modelo ideal para algo que é desigual e absurdamente individual em
cada ser: a felicidade! É disso que se trata a tal avaliação sobre vida, morte
e amor.
Dizem os maçons: “se quer bem viver,
pensa na morte”. Deus me livre! Para viver em paz temos que pensar que somos
eternos. A morte sempre foi uma assombração, a vizinha indesejável e pentelha
da qual ninguém se livra.
Os filósofos, hoje metidos a
psicólogos e psiquiatras, aconselham aquele estado de espírito de “Carpe Diem”,
viver o agora, sem grandes expectativas de futuro. Embora isso combine mais com
a adolescência, ainda é um conselhinho bem útil, pelo menos no sentido de
evitar pensar no declínio das coisas.
Já escrevi que os homens nascem,
crescem, se humilham e morrem, mas isso é uma verborrágica reação a uma
natureza que não aceito resignadamente. Se não amadurecer, posso vir a me
tornar mais um daqueles ridículos senis com síndrome de Peter Pan, que se
vestem como se tivessem vinte anos a menos do que têm e andam com garotas que
têm idade de serem suas filhas, ou pior, suas netas.
Uma menina que escreveu um conto de
um Ost, que vira Poste, disse uma vez que tem preguiça de gente. Também tenho,
mas não conseguiria viver sem. Por também ser gente, minha própria natureza me
grita agudamente aos ouvidos todo santo dia. E reconheço que, para satisfazer
os três grandes temas, o “outro” é essencial: Vida só tem sentido com o outro;
Amor só se vive em relação; e ninguém quer morrer sozinho!
De modo que estou mais conformado.
Minha vida não gira só em torno de mim, como achei o tempo todo. E há algumas
pessoas que são a melhor parte do que sou, seja porque me espelham, ou porque
me contestam, ou porque simplesmente estão ali.
Precisei de um ser para me parir e
precisarei de um ser para me enterrar. Se tiver um monte de seres a quem
consiga amar, com certeza serei bem feliz.
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