O Coletivo

Blog do escritor Juliano Rodrigues. Aberto a textos gostosos de quem quer que seja. Contato: julianorodrigues.escritor@gmail.com

quarta-feira, 29 de abril de 2015

A ansiedade e o esquecimento

Quem sofre de ansiedade passa um sufoco apertado, um frio na barriga, podendo chegar a tremores, choros, náuseas e taquicardia. Uma angústia acentuada, como se a curiosidade extrema impedisse de viver tranquilamente para usufruir do sabor natural dos acontecimentos, e seus desdobramentos.

Além da depressão, o transtorno de ansiedade generalizada (TAG) tem sido um dos grandes males desse século. Quem tem, sofre com irritabilidade excessiva, tensões musculares, insônia, dificuldade de convívio social, dentre vários outros sintomas. Normalmente muitos buscam os ansiolíticos e antidepressivos, mas se soubessem que duas soluções mais benéficas seriam a desintoxicação de telas (internet, celular, TV) e a leitura, jamais cairiam no conto das tarjas pretas.

Ninguém nega que essa era digital trouxe inovações. Antes a gente precisava ir atrás das informações. Hoje elas nos perseguem! Antes quando você queria ligar para alguém: simplesmente ligava, seja do telefone fixo, do orelhão ou do celular. Hoje, quando você quer ligar para alguém, você fica sabendo das bobeiras que o pessoal fala nos grupos de WhatsApp, que uma pessoa não tão próxima a você morreu de dengue, que o jovem sequestrado chegou em casa e quase todos foram presos, a repercussão do outro fuzilamento na Indonésia; a Bombril foi acusada injustamente de racismo, que a polícia mantém o toque de recolher em Baltimore, que Leonardo Boff pensa que a redução da maioridade é uma vingança da sociedade e não soluciona o problema; mais corrupções do PT foram encontradas, uma foto pelada da Dilma (montagem) é espalhada, que dois contados seus do facebook fazem aniversário hoje (alguém te cutucou e vinte pessoas te convidam para jogar Candy Crush Saga); já são mais de cinco mil mortos no terremoto do Nepal, mais ataques em Mali, que o rei Saudita nomeou o herdeiro, que controlaram o incêndio perto de Chernobyl; uma sugestão para um novo curso, o resultado da loteria (que ficará mais cara); que um spam no e-mail te sugere “enlarge your penis. Get a bigger, harder, thicker, more erect penis. The secret word never told for the best cockzilla”; que inúmeras atrocidades foram praticadas, uma página abre com propaganda para comprar na China, você recebe um vídeo de uma mulher pulando de um prédio, outro que o leão atacou um trabalhador do circo etc etc etc. O que você queria mesmo era apenas fazer uma ligação.

O excesso de informações e essa passividade é nociva ao cérebro e nossos 100 bilhões de neurônios com suas sinapses. O livro Ansiedade da Informação (de Saul Wurman, salvo engano - e é apenas um dos mil livros lançados diariamente no mundo) mostra como o cérebro funciona com as novas memórias e as antigas. Mostra também como somos reféns dessas informações que nos são sobrecarregadas arbitrariamente.

Já foi provado que a concentração e a leitura são os melhores remédios para essa crise da síndrome do pensamento acelerado. Devemos combater esse excesso. São muitas as nossas querências. Precisamos diminuir e simplificar tudo isso.

O jogo da moda, por exemplo, o tal LOL - league of legends, impede que você saia do jogo (senão será punido e ficara “banido”, sem jogar por tal tempo). E a vida urge, passam as caravanas com seus cães que ladram. Falta o tempo de qualidade, que zela da sua real necessidade.

Segundo uma pesquisa divulgada recentemente na globonews, 92,5% dos brasileiros não costumam ir a exposições de arte, 91,2% não vão a espetáculos de dança, 88,6% não frequentam o teatro, 73,7 % não vão ao cinema, 70,1 % não leem livro. São dados preocupantes da nossa cultura.

Tanto excesso provoca naturalmente o esquecimento. Tarefas a fazer, recados a serem dados, objetos a serem levados... Não conseguimos captar tanto. Voamos raso em vários assuntos e coisas ao mesmo tempo, mas não mergulhamos com intensidade em nenhum. Vivemos a era das convulsões de dados. Alienados?

Eu sei que tinha algo muito importante, mas muito importante para falar aqui. De verdade! Mas acho que me esqueci... Fica para a próxima página!

Leonardo Teixeira - 29/04/15
29/04/15

Um comentário:

  1. Vivo entre o caos e a "slow life". Gostaria de ler mais (adio O Homem Sem Qualidades, do Musil, há tempos), de ver todos os filmes que namoro, ir mais ao teatro. Acontece que, se a gente ocupa nosso tempo com isso, ficamos desatualizados do cotidiano; se não ocupa, ficamos incultos, estressados, com a visão estreita e o gosto tacanho. Solução: o "Caminho do Meio", propalado pelo budismo.
    Texto muito legal, Leo!

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