O Coletivo

Blog do escritor Juliano Rodrigues. Aberto a textos gostosos de quem quer que seja. Contato: julianorodrigues.escritor@gmail.com

domingo, 21 de novembro de 2021

Chapéu-tento


 

CHAPÉU-TENTO


Juliano Barreto Rodrigues


Sonhei com um tento de jogo, nas mãos de um moleque faceiro. Mãe preta ralhava com ele, mas ele fazia um piseiro. Explicava, disfarçando uma risota, que da arte não tinha culpa. 

-- Quem mandou, a cada gente, ter dois olhos nuã só cuca? O que um olho vê, às vezes outro não vê; e o olho que engana, com o outro não se desculpa.

Disse que ia por um caminho... e na encruzilhada parou. Brincava seu cachimbinho, quando a parelha de burros passou: 

-- Eram dois amigos: um passou de lá outro de cá. Que tenho eu, senhora, da amizade disandá?

-- Te conheço arrelia, alguma você aprontou. Tá aí fazendo figa, galhofando da sua amiga.

-- Ouvi eles brigarem, foi por causa do meu chapéu, que só por ter duas cores, provocou todo escarcéu. Tenho culpa não, nhá-nhá. Que quando um passou à direita, o outro passou do lado de lá. Cada um viu uma cor, e deram de se estranhar. Segui os dois bocós e vi o que assucedeu: Um falou do meu chapéu preto, o outro disse que era vermelho. Este acusou aquele de bêbado, virou o valha-me Deus.

-- E você não socorreu?

-- Mas se os dois tavam mentindo? Meu chapéu nem era preto, nem vermelho era o chapéu meu. Era feito este tentinho aqui: Cada lado de uma cor. Lindo, bicudo e bicolor.

-- Tu é um azougue menino, vive de molecagem. Passe pra dentro agora, e deixe de vadiagem. E dê-me aqui o meu tento, que inspirou sua cabeça de vento.



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