Debate cá, com meus botões
Juliano Barreto Rodrigues
“Si digo agua ¿beberé?
Si digo pan ¿comeré?”
Não nem eu, Pizarnik.
Quem dera,
Um chá de Clarice
Pudesse
Lispectorar o meu peito.
Queria que o vinhedo que criei não fosse de papel
Nem de papel minhas viagens europeias.
E as pessoas incríveis que conheci,
Os Buendia, um Sr. Micawber, Natacha,
Fossem mais de carne e osso
Que de palavras.
Existem para mim,
Mas como um sonho
Ou alguém que já morreu.
Como saudade.
Mas como ter saudade,
De quem jamais viveu?
Literatura é mundo paralelo
Dimensão de fuga mesmo
Então,
Para que tornar a ficção realidade,
Se é de excesso desta que padeço?
Repenso.
“Eu não: quero é uma realidade inventada.”
Na pedra de Drummond não se tropeça.
No meu dicionário não mora o tédio.
Como dizia Leminski,
Suprassumo da quintessência,
“O papel é curto.
Viver é comprido”
Queria então entrar em livros,
Feito Bastian Balthasar Bux,
Na História Sem Fim.
Em vez dos monstros
Das páginas saírem,
Como nos contos de R.L. Stine.
Feitas as pazes com minha vontade
Decidido o que,
Por fim, quero,
Ou seja, a minha situação.
E faço como João Cabral de Mello Neto:
“Saio de meu poema como quem lava as mãos.”
***
Debate cá, com meus botões
Escrito em 28 de outubro de 2021.
Ouça em:
"Debate cá, com meus botões" - podcast
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