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Blog do escritor Juliano Rodrigues. Aberto a textos gostosos de quem quer que seja. Contato: julianorodrigues.escritor@gmail.com

terça-feira, 2 de novembro de 2021

Debate cá, com meus botões


Debate cá, com meus botões


Juliano Barreto Rodrigues


“Si digo agua ¿beberé?

Si digo pan ¿comeré?”

Não nem eu, Pizarnik.


Quem dera,

Um chá de Clarice

Pudesse 

Lispectorar o meu peito.


Queria que o vinhedo que criei não fosse de papel

Nem de papel minhas viagens europeias.

E as pessoas incríveis que conheci,

Os Buendia, um Sr. Micawber, Natacha,

Fossem mais de carne e osso 

Que de palavras.


Existem para mim,

Mas como um sonho

Ou alguém que já morreu.

Como saudade.

Mas como ter saudade,

De quem jamais viveu?


Literatura é mundo paralelo

Dimensão de fuga mesmo

Então, 

Para que tornar a ficção realidade,

Se é de excesso desta que padeço?


Repenso.

“Eu não: quero é uma realidade inventada.”

Na pedra de Drummond não se tropeça.

No meu dicionário não mora o tédio.

Como dizia Leminski, 

Suprassumo da quintessência,

“O papel é curto.

Viver é comprido”


Queria então entrar em livros, 

Feito Bastian Balthasar Bux, 

Na História Sem Fim.

Em vez dos monstros

Das páginas saírem,

Como nos contos de R.L. Stine.


Feitas as pazes com minha vontade

Decidido o que, 

Por fim, quero,

Ou seja, a minha situação.

E faço como João Cabral de Mello Neto:

“Saio de meu poema como quem lava as mãos.”


***



Debate cá, com meus botões

Escrito em 28 de outubro de 2021.

Ouça em:

"Debate cá, com meus botões" - podcast





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