Não trago as tais palavras limitadoras da
criatividade, ou, se existem, mandei para o fundo do inconsciente. Tenho
trabalhado há um tempo minha autocrítica e favorecido minha expressão. Não
cerceio minha criatividade: o que é para sair, sai. Sem medo. Tendo feito o
exercício de me expor, de escrever e mostrar, deixei a vergonha e boa parte do
orgulho para lá. “Perfeito”, nenhum texto nunca é, mas é o melhor que alguém
conseguiu fazer. Quando releio, sempre penso que faltou uma vírgula, ou poderia
ter mudado uma palavra ou frase. Quem não?
Alguém sempre vai gostar de um texto que outro
não gostou e vice-versa. E quem gostou de um, não necessariamente gostará dos
seguintes. Por isso, não dá para escrever para os outros, só para si. Se tiver
verdade, se sair com gosto, merece o mundo.
Em criatividade não há (ou não deveria haver)
regras. As que existem devem ser quebradas. Se penso literatura como arte,
estou nesse campo do tudo pode. Sei que existem gêneros, fortuna crítica dos
gêneros, preceitos linguísticos e gramaticais, teorias e correntes etc., mas se
arte é expressão livre, tudo isso é pouco importante.
Claro que escritas encomendadas (inclusive
aquelas redações de concursos, por exemplo) têm que atender algumas exigências,
mas nem assim internalizo estas. Faço o necessário, me contenho, mas, dentro da
minha cabeça, explodem imagens e ideias que, quem sabe em outro momento, posso
pôr no papel superlativas.
Desenho desde criança. Embora reproduza bem
imagens e até crie boas composições, são um exercício limitado. Escrever, por
sua vez, é alma fluindo: consigo criar, aparentemente, do nada. Eis a mágica,
meu veio de expressão, lugar em que sou dono (inteiramente) do que surge.
Limites à minha criatividade? Talvez algum tema,
do tipo violência infantil, injustiças grandes, sei lá, algo que me doa tanto
que eu não queira visitar com minha escrita. São coisas sobre as quais eu só
escreveria se fosse obrigado. Mas posso fazer, só não quero. Esse é mais um
âmbito de liberdade de escolha do que uma limitação.
Venho da poesia, da escrita livre. Pouco, ou quase nada disso, aprendi na escola. Vendo os poemas de ‘peito rebentado’ da minha mãe é que
aprendi que o papel aceita qualquer coisa, que tudo pode nascer ali. “Ah”,
dirão alguns, “nem tudo pode ser escrito e aceito por uma sociedade”. Aí é
outro assunto. Escrever para si mesmo é soltar qualquer bicho. Escrever para os
outros é, antes de tudo, cortar, moderar. Por isso, nem tudo o que a gente
escreve sai da gaveta, embora muitas vezes o melhor de nós é o que está nela.
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